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Xenofobia cresce no futebol brasileiro enquanto CBF fecha os olhos para o problema

  • Jônathas Rocha e Miguel de Paula
  • 2 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de jan.

Segundo especialista, a instituição não se posiciona sobre os casos e tampouco promove campanhas para reduzir práticas de cunho preconceituoso


Na primeira semana de novembro, no jogo entre Athletico-PR e Vitória, pela 32ª rodada do Brasileirão, mais um caso de preconceito foi registrado no futebol nacional. Na situação, profissionais do clube baiano relataram ter recebido ofensas xenofóbicas por parte da torcida paranaense no desenrolar da partida. Nesse contexto, Raquel de Oliveira, especialista do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), afirma que as ocorrências representam uma extrapolação dos limites da zoação, onde o respeito deixa de ser considerado.


Em nota oficial, publicada nas redes sociais do clube, o Vitória detalhou as atitudes ofensivas da torcida mandante e pontuou que entrará na justiça para penalizar os responsáveis. Veja a nota:


" O Esporte Clube Vitória repudia veementemente as ofensas xenofóbicas, o arremesso de cervejas, urina e objetos que podem ferir nossos profissionais na beira do campo.

Estipulamos sempre o espírito esportivo nas partidas; porém, ofensas e ataques não serão aceiros. Isso ultrapassa todo e qualquer limite! Equipamentos foram danificados diante de tais atitudes e tentaram agredir fisicamente nossos profissionais. Pedimos respeito pelos nossos profissionais, que carregam nosso Manto com orgulho em todos os campos do Brasil

Denunciamos e cobraremos que a justiça seja feita!"



De acordo com Raquel de Oliveira, essa prática preconceituosa não faz parte da esportividade e explica, em termos da sociologia, como ocorrem tais atos.


— A zoação é um movimento mútuo e que geralmente tem um grau maior de proximidade, em que é possível administrar a situação. No entanto, o preconceito rompe com esse limite, indo completamente contra o que a pessoa é - explicou a pesquisadora.


Não é a primeira vez que o torcedor baiano é prejudicado e recebe ofensas com este teor. Em 2022, em jogo válido pela Copa do Brasil, também realizado no Paraná, um funcionário do Bahia alegou que sofreu xenofobia e compartilhou nas redes sociais os comentários proferidos pela torcida do Azuriz, adversário do Tricolor de Aço. Confira o que foi dito:



Crédito: Bruno Queiroz, via X/Reprodução


Outros casos de preconceito vitimando torcedores nordestinos


Pela disputa do Brasileirão Série B, Criciúma e Sport mediram forças em partida realizada no Heriberto Hulse, casa do time catarinense. O placar foi de derrota do time pernambucano, por 1 a 0, e a discriminação falou mais alto em cantos entoados pela torcida do Tigre. Na situação, a diretoria do Leão da Ilha do Retiro se posicionou a respeito do ocorrido e fez uma denúncia junto à CBF.


Porém, na reportagem de campo feita pelo canal de televisão SporTV, termos como "Brasil é Sul", "vocês são lixo" e "vão embora" foram proferidos.


Aumento nos casos de xenofobia no último ano


Em setembro, a CBF e o Observatório da Discriminação Racial divulgaram o relatório anual sobre casos de preconceitos no futebol referentes a 2023, no qual foi considerado um aumento significativo de ocorrências no futebol brasileiro. 


Segundo os dados, foram registrados 195 casos de discriminação, sendo eles racismo, LGBTfobia, xenofobia e misoginia. A maior parte deles dentro dos estádios, 104 no total, e depois atos na internet (19) e em outros espaços (13). A xenofobia compõe 6% dos casos de discriminação no futebol brasileiro em 2023.



Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, no evento para o 10º Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Foto: Rafael Ribeiro/CBF


Durante a apresentação, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou que o aumento dos casos tem ligações com o engajamento da população sobre o assunto, o que faz ter o crescimento das denúncias. Ele ainda anunciou a renovação da parceria da entidade com o Observatório da Discriminação Racial por mais quatro anos.


Posicionamento da CBF diante do aumento no número de casos


Raquel critica a postura da entidade em casos de xenofobia e a falta de campanhas sociais para o combate ao preconceito.


— A CBF vem se posicionando acerca de algumas temáticas sociais muito importantes. No entanto, em relação à xenofobia, eu não vi nenhuma campanha ou ação educativa sobre – pontua a pesquisadora.


No início do ano passado, a Confederação fez alterações no Regulamento Geral de Competições, documento que estabelece as normas e regras gerais para a disputa de todos os campeonatos organizados pela entidade, visando combater as diversas formas de discriminação.


Ainda segundo o Regulamento Geral de Competições, serão investigados todos os atos discriminatórios que confrontam a dignidade humana. Alguma das principais sanções previstas no regulamento são: 


  • Advertência

  • Multa penitenciária administrativa no valor máximo de 50 mil reais a ser revertida em prol de causas sociais, inclusive através da dedução de cotas a receber

  • Vedação a registro de atletas

  • Perda de pontos, em relação aos clubes

  • Desclassificação da competição

  • Retirada de título

  • Proibição do acesso ao estádio


A pesquisadora propõe alternativas à CBF para diminuir casos de xenofobia nos estádios.


– O caminho não são apenas as ações educativas, mas também seria interessante uma criação de espaços para que torcedores de diferentes clubes e de diferentes estados possam conviver e compartilhar experiências, para que haja uma maior relação entre eles e para que episódios xenófobos sejam reduzidos – opina Raquel.


O crime de xenofobia está previsto na lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, e prevê penas para aqueles que possam a vir a praticar, induzir ou incitar a discriminação ou o preconceito, podendo ser de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A punição de quem comete esse crime é a reclusão de um a três anos e multa, com a pena podendo ser aumentada de dois a cinco anos para casos que ocorrem nas redes sociais.



Publicado por João Gabriel Nicolli

Faculdade de Comunicação Social | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

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