Rio de Janeiro: de colônia portuguesa à Capital Mundial do Livro
- Beatriz Cardeal e Junior Azevedo
- 14 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de jul.

O Rio de Janeiro, depois de ser a sede do G20 e BRICS, conquistou mais um reconhecimento internacional que ecoará por décadas na história cultural do Brasil: a nomeação como Capital Mundial do Livro 2025.
A honraria é concedida a cidades que demonstram um compromisso sólido com a promoção da leitura, da literatura e do acesso ao conhecimento. A Unesco promove a iniciativa, que anualmente escolhe uma metrópole para assumir a função iniciada em Madri, em 2001. Ser a 25ª cidade escolhida representa uma conquista simbólica e estratégica para um Rio de Janeiro cada vez mais atraente aos eventos e títulos internacionais.
Em conversa com Isabel Travancas, professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura e coordenadora do curso de Produção Editorial da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela conta um pouco sobre o momento que a cidade vive:
“É uma alegria e uma homenagem à cidade maravilhosa. Creio que o Rio de Janeiro sediou a Copa do Mundo, as Olimpíadas e agora o encontro dos BRICS. Ou seja, é uma cidade internacional e, apesar das dificuldades e desigualdades, tem crescido o número de livrarias, de eventos, de festas literárias, como a Flip, e de clubes de leitura em livrarias.”
A escolha do Rio não foi por acaso. A primeira cidade de língua portuguesa escolhida para receber essa distinção tem a trajetória marcada por eventos que moldaram sua identidade cultural e literária ao longo dos séculos. Desde os tempos em que a Coroa portuguesa estabeleceu suas raízes na região até os dias atuais, a cidade passou por profundas transformações que contribuíram para consolidar seu papel como um polo de produção artística e intelectual.
O Rio de Janeiro tem uma história singular e única no passado colonial do continente americano. Eleita a capital colonial, posteriormente capital do império português e capital do Brasil independente – até 1950, quando foi transferida para Brasília –, a presença de instituições renomadas, bibliotecas centenárias e eventos internacionais reforçam a importância do incentivo à cultura nacional na criação e preservação do poder simbólico de um lugar.
E é possível ver os frutos dessa política cultural mais de 200 anos depois da Independência, com o reconhecimento internacional na escolha para sediar grandes eventos e receber títulos. Ser a Capital Mundial do Livro em 2025 reforça essa trajetória histórica enquanto sinaliza um momento de renovação e esperança para o setor cultural brasileiro, tendo em conta que, apesar dos avanços locais e das iniciativas públicas voltadas à leitura – como feiras literárias, programas educativos e projetos sociais –, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos na ampliação do hábito da leitura em todo o território nacional.
Realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é organizada a cada cinco anos para analisar os hábitos de leitura dos brasileiros. A sexta edição aponta que o país perdeu sete milhões de leitores e que apenas 27% da população leu um livro inteiro. Com os indicadores de que a maior parte da população brasileira tem dificuldades no acesso ou demonstra pouco interesse pela leitura regular, Isabel Travancas comenta:
“Infelizmente o Brasil como um todo não é um país leitor. O livro não está presente nas famílias de classe baixa por falta de renda, nas famílias de classe média, muitas vezes por questões financeiras e desinteresse. Por outro lado, muitas vezes os membros classe alta não têm interesse pelos livros.”
Nesse contexto, a nomeação oferece uma oportunidade única ao Brasil para refletir sobre as potencialidades e inspirar mudanças mais amplas no país.
“Creio que o fato de o Rio de Janeiro ter sido escolhido como Capital Mundial do Livro seja uma alegria e possa ajudar/estimular os jovens a ‘descobrirem a importância e o prazer da leitura. As instituições muitas vezes precisam de verba para comprar livros; de bibliotecários que possam cuidar das obras e indicá-las aos frequentadores, mas também necessitam de um espaço agradável para a leitura, seja de um livro escolar, seja de um romance.”

Com o objetivo de compreender não apenas os aspectos históricos que construíram a identidade cultural do Rio de Janeiro ao longo dos séculos, mas também as ações contemporâneas que vêm consolidando sua posição como polo literário mundial, iniciaremos uma imersão em três pontos emblemáticos do Rio Antigo, os quais são listados pela Unesco como um dos motivos que apoiaram a escolha da cidade. Destacando a importância na formação da narrativa cultural da cidade, eles se tornaram símbolos das transformações urbanas e culturais pelas quais a cidade passou até se tornar uma metrópole reconhecida internacionalmente.
Nesse contexto, os eventos literários desempenham um papel crucial na construção dessa trajetória no século XXI, atuando como catalisadores de engajamento e valorização cultural. Festivais literários e encontros internacionais realizados nessas áreas fortaleceram o vínculo entre o público e a produção literária local, promovendo debates, lançamentos e intercâmbios que ampliam o alcance da cultura escrita. Essas ações contribuem na criação de uma atmosfera vibrante de troca de ideias e talentos, consolidando o Rio como um espaço dinâmico em que história, cultura e literatura se encontram.
Ao unir passado e presente nesta narrativa ampla e detalhada, refletiremos sobre a importância do Rio de Janeiro na história da literatura mundial e seu papel como agente de mudanças sociais através da cultura. Afinal, entender essa trajetória é fundamental para reconhecer o poder das cidades enquanto promotores construtivos de sociedades mais letradas, democráticas e conscientes.