Ludopatia e o mercado de apostas na área da Comunicação
- Breno França
- 2 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de dez. de 2024

(Foto: Agência Senado)
Os jogos de azar são criados por aqueles que sempre vencem, e nem sempre esses empresários ou grupos precisam participar para ganhar dinheiro. Saber como manter as ideias do jogo vivas, e funcionando para os demais, já basta. Para os apostadores, sejam os profissionais, inexperientes e desesperados, a cabeça de cada um deles tem um preço. A depender do resultado, as mentes dessas pessoas são lotadas de dúvidas e até mesmo dívidas. O mundo das apostas acontece dessa forma, dos glamourosos casinos de Las Vegas em Nevada, com caça-níqueis e roletas, aos subúrbios do Rio de Janeiro, com o atemporal Jogo do Bicho, criado pelo empresário e barão João Batista Viana Drummond no final do século XIX.
Corridas de cavalos, casas de apostas virtuais e carteados são outros jogos que fazem os jogadores mais descuidados caírem em desgraça financeira e mental: a ludopatia, reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde os anos 1980. Essa condição patológica é causada quando os jogadores, ao vencerem uma aposta, têm seus níveis de excitação elevados pelo neurotransmissor da dopamina, associado ao prazer. Com isso, eles tomam decisões cada vez mais arriscadas, sem calcular o risco do que ou do quanto podem perder se continuarem jogando.
As chamadas “bets” se popularizaram rapidamente na mídia, assim como os escândalos envolvendo casas de apostas e famosos que fizeram publicidade delas nas redes sociais, como foram os casos de Neymar, Felipe Neto e Viih Tube, pela Blaze. Essa situação mostra que é um mercado muito oportuno e lucrativo até para quem não precisa jogar, apenas divulgar o Site ou a empresa, que aproveita o alcance da celebridade para atingir mais pessoas e, obviamente, lucrar mais. O jogador do Al-Hilal chegou a ser acusado por promover publicidade enganosa para a empresa, porém, o caso foi arquivado pelo Ministério Público. Hoje, a Blaze é autorizada pelo Governo Federal a funcionar no país, pela lei n° 14.790/2023.
A legislação atual sobre a ludopatia no Brasil inclui essa lei, a chamada Lei das Apostas, e propõe ainda o Projeto de Lei nº 3.669/2024. A Lei aprova a regulamentação das apostas esportivas e protege os consumidores da ludopatia, além de proibir propagandas ou publicidades que relacionem o sucesso individual e a ascensão social aos jogos. O PL, por sua vez, foi apresentado pelo Deputado Federal Zacharias Calil (União/GO). A ementa está em conformidade com a Lei das Apostas, solicitando prevenção e tratamento contra o transtorno da ludopatia. Além disso, as casas de apostas também devem arcar com o financiamento de ajuda e tratamento às pessoas e familiares afetados. O projeto está apensado ao 3.355/2024, da autora Carla Ayres (PT/SC), que aguarda o parecer de relatoria na Comissão de Saúde (CSAUDE).
Apesar dos projetos de lei serem acertados, precisam ser menos flexíveis, pois se a Lei das Apostas proíbe anúncios de prosperidade e sucesso pessoal atrelado aos jogos, veículos de comunicação de grande alcance não deveriam enxergar nesse mercado uma forma de lucrarem. O Grupo Globo, em parceria com a MGM Resorts, anunciou sua entrada no mundo das apostas esportivas para o ano que vem. A cooperação dos grupos mescla entretenimento e jogos para que a marca BetMGM seja bem-sucedida em 2025.
O maior grupo midiático do país terá mais um ativo para aumentar os ganhos, e a forma como esse dinheiro entrará para os cofres do Grupo Globo deve ser questionada. Pensemos na questão da oferta e demanda que o mercado consumidor oferece ao seu público: hoje as casas de apostas invadiram o futebol brasileiro, sendo patrocinadoras oficiais ou másters dos campeonatos e clubes daqui. As empresas operadoras pagam ao Grupo Globo para que seus anúncios apareçam e alcancem a vasta audiência em seus vários canais, sobretudo na TV aberta e nos canais esportivos. Com a própria casa de apostas, a tendência é que o maior conglomerado de comunicação e mídia da América Latina amplie suas cifras sobre parte de um público apostador prejudicado pela ludopatia.
Publicado por Bernardo Carapiá