top of page

Entre likes e quilômetros: a influência das redes sociais na nova geração de corredores

  • Carolline Alves e Luis Henrique Vieira
  • 10 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de jul.

TikTok e Instagram modelam o hábito de correr e treinar, mas a busca pela perfeição pode trazer riscos para o corpo e a mente


Foto: Vitória Queiroz/Arquivo Pessoal
Foto: Vitória Queiroz/Arquivo Pessoal

“Eu corria pensando que, se eu não alcançasse o ‘pace’ que via no TikTok, não seria boa o suficiente. Ainda acabei me machucando tentando provar que também podia correr 10 km todo dia sem preparação”. Relatos como o da estudante de enfermagem Vitória Queiroz, de 25 anos, ilustram um crescente fenômeno entre a nova geração de jovens corredores: a influência das redes sociais na prática esportiva. Hashtags como #RunTok e vídeos de influenciadores fitness impulsionam milhares de jovens a calçarem os tênis, mas a pressão por resultados dignos de um feed impecável pode trazer diversos danos físicos e emocionais.


A experiência de Vitória reflete uma tendência maior, como mostram os dados do relatório “Ano Esportivo 2023”, publicado pela rede social Strava, que reúne mais de 120 milhões de usuários dedicados à atividade esportiva no mundo. Segundo o levantamento, no Brasil, a corrida foi a terceira atividade mais popular na plataforma, ficando atrás do ciclismo e da caminhada. Além disso, mais da metade dos corredores afirmaram que a principal motivação para se exercitarem veio da interação com amigos ou familiares, reforçando a potência das redes sociais “analógicas” e digitais na construção de comunidades esportivas. Na geração Z, grupo de pessoas nascidas entre 1995 e 2010, o senso de conexão gerado pelas atividades compartilhadas é ainda mais evidente: 77% dos jovens afirmaram que se sentem mais conectados ao verem o desempenho de amigos e familiares na rede social. 


Embora a conexão social seja um dos maiores atrativos para os corredores, o relatório "Ano Esportivo 2023" aponta que as demandas do dia a dia também são grandes desafios. No Brasil, 61% dos atletas disseram que a falta de tempo é o maior obstáculo para manter uma rotina consistente, seguida pelo calor extremo (59%) e pela má qualidade do ar (23%).


Contudo, redes como o TikTok e o Instagram estão recheadas de pequenos vídeos que mostram a rotina com treinos, desafios e dicas, com a finalidade de compartilhar o estilo de vida, gênero mais conhecido nas mídias como lifestyle. Vitória Queiroz, por exemplo, começou a correr motivada por um desafio de 5 km que viralizou. 


“Eu nunca imaginei que poderia correr tanto. A primeira vez que completei a distância foi incrível, parecia que eu pertencia a algo maior, um sentimento inexplicável”, celebra a estudante.


Relação tóxica nas redes


Apesar do potencial motivador, as redes sociais podem criar uma relação tóxica com a corrida. A influenciadora Ju Mamute, conhecida por equilibrar a corrida e a musculação nos seus conteúdos do TikTok, alertou os seguidores sobre a necessidade de ouvir o próprio corpo e atentar à intensidade dos treinos, com o objetivo de mostrar o lado saudável e acessível do esporte.


Segundo o treinador esportivo e corredor Júllio Mota, a autocobrança por resultados rápidos e visíveis leva muitos corredores inexperientes a ignorarem os sinais que o corpo pode apresentar.


“Muitos acham que precisam correr todos os dias e aumentar a distância semanalmente, acabam focando no pace (ritmo médio de um corredor), mas isso pode causar lesões como canelite ou fadiga muscular crônica. A corrida é um processo, não uma corrida contra o tempo”, alerta o professor, que também recomenda diversificar os treinos e lembra que descanso faz parte da evolução.



Foto: Jullio Mota/Arquivo Pessoal
Foto: Jullio Mota/Arquivo Pessoal

Essa pressão não se limita ao físico. Entre treinos perfeitos e corpos ideais no feed, o sentimento de inadequação e ansiedade podem ser levados ao extremo e afetar a saúde mental dos atletas, de acordo com a psicóloga Gabrielle Ribeiro. "As redes mostram apenas recortes da vida. É fácil esquecer que aquela influenciadora que corre 15 km hoje pode ter descansado nos últimos dois dias ou ter enfrentado lesões no passado. Além da vida pessoal, nem todo mundo tem as mesmas oportunidades ou tempo disponível para fazer tudo isso", analisa a psicóloga.


Depois de sofrer uma lesão pelo excesso de treino, a estudante Vitória revela que aprendeu a importância de respeitar seus limites. "No começo, eu tentava copiar tudo da internet sem entender pelo menos o básico dos treinos, mas percebi que o mais importante é cuidar de mim, não tentar superar alguém na internet", reflete.


Publicado por: Christian Domingues

Faculdade de Comunicação Social | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

bottom of page