top of page

Dona Tereza e a Biblioteca Tio Jair da Mangueira: uma trajetória de resiliência e oportunidades para favela

  • Laura Marques
  • 22 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de nov.

Para além de acesso à leitura, espaço se mostra como um lugar de acolhimento para crianças, jovens e adultos da Mangueira e proximidades


Dona Tereza é gestora há 25 anos da Biblioteca Pública Tio Jair, que fica próxima à favela da Mangueira, no Rio de Janeiro. Foto: Laura Marques.
Dona Tereza é gestora há 25 anos da Biblioteca Pública Tio Jair, que fica próxima à favela da Mangueira, no Rio de Janeiro. Foto: Laura Marques.

“Quando tinha matérias das quais eles precisavam e a gente não tinha, eu pegava os livros e as apostilas dos meus filhos, que também estudavam na época, e trazia para eles”, relembra Maria Tereza Pereira de Matos, de 74 anos, uma das gestoras da Biblioteca Pública Estadual Tio Jair, que fica na favela da Mangueira, na zona norte do Rio de Janeiro. 


Cria da Mangueira, uma das favelas mais famosas do município, e parte da equipe dessa biblioteca há 25 anos, ela compartilha como é fundamental ter um espaço de leitura e acolhimento para moradores do entorno. “Muitos dos alunos que frequentavam aqui, hoje já estão formados e com faculdade concluída. Alguns que me reconhecem na rua hoje em dia e me cumprimentam, eu fico orgulhosa.”


Localizada em meio a três escolas públicas, de segunda a sexta, das 9h às 18h, a biblioteca oferece acesso a computadores, jogos, oficinas interdisciplinares e à leitura. Foto: Governo do Estado do Rio de Janeiro
Localizada em meio a três escolas públicas, de segunda a sexta, das 9h às 18h, a biblioteca oferece acesso a computadores, jogos, oficinas interdisciplinares e à leitura. Foto: Governo do Estado do Rio de Janeiro

Fundada em 2000 por um grupo de estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o espaço, que na época se chamava “Biblioteca para Todos”, teve a participação ativa de Dona Tereza e sua irmã, Silvana, que já superaram momentos críticos de estrutura, mas que, com apoio, conseguiram superar. 


“O nosso teto caiu, o telhado ficou ruim...”, relembra ela. “Aí, conseguimos a ajuda de um rapaz que também foi um dos apoiadores na fundação da biblioteca, e com o apoio dele conseguimos reconstruir.”


Com o tempo, os idealizadores dessa iniciativa foram se formando e afastando do projeto, mas elas insistiram como puderam para manter o lugar. “Naquela época, a gente colaborava como podia, com livros que tínhamos em casa, trazia para cá para conseguir levar adiante”. Em 2023, o espaço foi reinaugurado com o apoio da Secretaria do Estado de Cultura e Economia Criativa e passou a integrar a rede Biblioteca Parque, localizada no Centro do Rio. 


"Meus filhos cresceram na comunidade, estudaram a vida toda em escola pública, formaram-se, e hoje cada um tem sua profissão", conta Dona Tereza com orgulho, sobre Fabiana e Felipe, hoje, sargento da Marinha e profissional de Recursos Humanos, respectivamente. 


A experiência pessoal e profissional na biblioteca revela que, para além da leitura e do lazer, este é um espaço de apoio para as pessoas que a frequentam, principalmente, quando o assunto é apoio emocional. "Se você tem apoio de casa, fica mais fácil ver caminhos possíveis para seguir no futuro. Se não tem, mas tem uma cabeça boa, sentir que você pode sentar, conversar, pedir conselhos acho que ajuda, e muito”, comenta a gestora. Essa angústia vivida por jovens periféricos não é novidade no Brasil, e por vezes a Dona Tereza se coloca nesse lugar oferecendo palavras que fortalecem a caminhada de jovens que chegam por lá compartilhando suas histórias.


Daniel Otávio, visitante assíduo da biblioteca. Foto: Laura Marques.
Daniel Otávio, visitante assíduo da biblioteca. Foto: Laura Marques.

No senso comum, a palavra acolhimento pode ser definida como boa hospitalidade, segurança ou abrigo gratuito. Para Daniel Otávio, de 21 anos, também morador da Mangueira, isso pode ser encontrado nos livros: “Ler me traz riqueza. É quando os problemas de casa saem da minha cabeça. Aqui, eu encontro descontração, aprendizado e bons pensamentos.”


Ainda no âmbito da educação, o espaço também se coloca disponível para oferecer oficinas e palestras para jovens e adultos para iniciativas sociais que tenham interesse.  


Foto: Freepik.
Foto: Freepik.

O cafezinho da tarde tem presença confirmada nos dias de aula de fuxico. Entre risadas e histórias compartilhadas, as senhoras que moram ali perto seguem se reunindo para aprender e trocar nas oficinas de fuxico e crochê, práticas que, além de manterem viva a tradição do artesanato, fortalecem os laços entre elas.


Dona Tereza, uma das multiplicadoras desse saber, com paciência e carinho compartilha suas as técnicas e, principalmente, o prazer de criar algo com as próprias mãos. “Essas coisinhas que a gente consegue fazer aqui, vejo que deixam elas muito felizes. E eu fico mais ainda”, contou. Para ela, mais do que o aprendizado, o encontro é um respiro na rotina. “É bom que elas saem de casa um pouco para se distrair, para conversar”, completa.


Publicado por Kamila Campos





Faculdade de Comunicação Social | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

bottom of page