Crise do metanol: o preço social de uma tragédia sem solução
- Alice Rodrigues e Nicole Galvão
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Ausência de respostas concretas escancara a fragilidade da fiscalização e impõe custos à vida social e econômica

Há cerca de um mês, casos isolados de intoxicação por metanol — uma substância líquida, inflamável e incolor, usada na fabricação de combustíveis e outros materiais — tomaram o estado de São Paulo. Vítimas relataram que, após noites de socialização em bares da capital, acordaram com dores pelo corpo, visão turva e em alguns casos até cegueira.
Rapidamente, o que parecia uma crise sanitária local se tornou uma emergência de saúde pública nacional, com impactos sociais e econômicos em todo o país. Desde as primeiras notícias, a crise do metanol já soma 59 casos confirmados e 15 mortes. E o que antes parecia uma tragédia pontual, agora, revela falhas profundas de fiscalização e de confiança, e mostra como a ausência de respostas concretas pode afetar o dia a dia das pessoas.
O impacto é evidente. Ir a um bar, brindar com amigos ou pedir um drink se tornaram atos que geram desconfiança. A contaminação por metanol fez vítimas, deixou sequelas e prejudicou setores da economia das grandes cidades do país. Segundo o relatório mensal Abrasel-Stone, divulgado pela Stone em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, o consumo da categoria reduziu em cerca de 4,9% no mês de setembro; o que prejudica toda a cadeia de empregos de um setor que vinha em estabilidade nos três meses anteriores ao relatório.
Gabriel Ramos, estudante carioca de 24 anos, conta que diminuiu o consumo de bebidas alcoólicas e que sente uma tensão relacionada aos casos de intoxicação por metanol. “É confuso, porque não tem mortes no Rio ainda, mas a gente continua inseguro, sabe? Com medo de ser o primeiro”. A cidade do Rio de Janeiro não possui nenhum caso confirmado, apenas casos em avaliação.
Ele completa que está evitando destilados, mas não são todos à sua volta que seguem essa ideia. “Ninguém sabe de nada muito bem, e fica naquela ideia de ‘ah, não vou parar a minha vida por isso’”.
A lentidão nas investigações e a falta de soluções definitivas agravam esse sentimento. Não se tem respostas concretas sobre o final da crise e as contaminações ainda não cessaram. Isso escancara como a falta de fiscalização em depósitos de bebidas, principalmente na produção de destilados, põe em risco a vida e a confiança dos consumidores.
E em meio à confusão, a falta de informações confiáveis amplia o caos. Diversas fake news relacionadas à crise surgiram nas últimas semanas, envolvendo o número de casos, vítimas ou ou apontando os culpados pela origem da contaminação. Atualmente, apenas os estados de São Paulo (46), Paraná (6), Pernambuco (5), Rio Grande do Sul (1) e Mato Grosso (1) confirmaram os casos, e ainda com origens incertas.
A crise do metanol é um retrato da fragilidade das estruturas públicas de segurança e vigilância. O custo da demora é alto e, no fim, quem paga são as pessoas. Não se trata só de uma crise sanitária: é um espelho da forma como o país lida com suas emergências. E talvez a lição mais dura seja perceber que, quando a confiança se perde, nem o brinde mais inocente escapa do gosto amargo da desinformação.
Publicado por Luiza Lara.
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