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Copa em casa, mas sem jogo por enquanto: futebol feminino inicia 2025 ainda sem calendário definido pela CBF

  • Gustavo Fernandes
  • 13 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 14 de jan.

Entidade, que organizará o próximo Mundial da modalidade no Brasil, adota tratamento diferente com o esporte masculino


Foto: Lesley Ribeiro/CBF
Foto: Lesley Ribeiro/CBF

Até a última quarta-feira (8), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ainda não tinha divulgado as datas de suas competições para a temporada deste ano do futebol feminino, que se inicia já em fevereiro. Eventuais mudanças no regulamento dos torneios ou no formato dos campeonatos, até o momento, também não foram comunicadas pela entidade, que se encontra de recesso até segunda-feira (13).


Em 11 de dezembro do ano passado, a CBF enviou um ofício a todos os clubes e federações que participam de competições de futebol feminino, comunicando que uma reunião será marcada neste mês de janeiro. Segundo o documento, o encontro terá como objetivos discutir a definição do calendário de 2025 e apontar caminhos para o desenvolvimento da modalidade em todos os campeonatos, desde as categorias de base.


O futebol brasileiro feminino profissional conta com três competições ao todo: Campeonato Brasileiro (séries A1, A2 e A3), Copa do Brasil e Supercopa do Brasil – troféu que abre a temporada em fevereiro. Já os torneios de base são dois: Campeonato Brasileiro (sub-16, sub-17, sub-18 e sub-20) e Liga de Desenvolvimento (sub-14 e sub-16). Todos esses se encontram sob indefinições em relação às datas de disputa ao longo do ano, algo que impacta diretamente o planejamento dos clubes. 


O Atlético-MG, por exemplo, espera a definição do calendário de 2025 para tentar permanecer na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, já que, após ser rebaixado na série A1 (primeira divisão), ainda precisa disputar um mata-mata com as equipes eliminadas nas quartas de final da série A2 (segunda divisão) para, enfim, descobrir como será o seu ano de 2025. O Cruzeiro, por outro lado, está na disputa da Supercopa do Brasil no próximo mês, e também aguarda o comunicado da CBF.


Essa não é a primeira vez que as definições sobre o calendário do futebol feminino acontecem de maneira tardia por parte da CBF. Porém, com a aproximação da Copa do Mundo de 2027 – sediada no Brasil e que terá a própria Confederação como um dos organizadores, juntamente com a Fifa – e com o desenvolvimento crescente do esporte de mulheres no país nos últimos anos, a expectativa era que, a essa altura, alguns problemas já tivessem sido superados.


Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (Leme) e professora da Faculdade de Comunicação Social da Uerj, Leda Maria da Costa pontua que, apesar de os atrasos na divulgação de calendários para o futebol feminino não serem uma novidade por parte da CBF, o fato acaba surpreendendo justamente pela proximidade com a Copa do Mundo Feminina, a qual, a princípio, forçaria um impulso de desenvolvimento das estruturas mais básicas do futebol de mulheres aqui no país.


 “O futebol feminino, além de ainda não fazer parte do circuito espetacularizado, também tem um problema histórico, um abismo de estrutura criado por ser uma modalidade que ficou proibida por mais de 40 anos de se desenvolver profissionalmente. Esse preço bate à porta, e bate à porta dessa forma, com um ano que começa sem um calendário definido ainda; com o agravante de nós estarmos à beira de uma Copa do Mundo que vai ser realizada no Brasil”, ressalta a pesquisadora.


Quando observado o histórico de definições de datas do feminino nos últimos anos, o que fica claro é que onde deveria haver avanço, na prática, é o contrário. Da temporada de 2022 até a de 2024, a CBF divulgou os respectivos calendários de jogos de cada um desses anos com uma antecedência maior do que o da temporada deste ano, só que essa antecedência tem diminuído com o tempo. Em 2022, a tabela foi publicada ainda em 22 de novembro do ano anterior; em 2023, o anúncio dos jogos ocorreu em 20 de dezembro de 2022 e, para o ano de 2024, a entidade soltou o calendário no dia 22 do último mês de 2023, em todos os casos com as temporadas tendo início em fevereiro. Agora, 2025 começa sem calendário.


“Hoje muitas jogadoras jogam fora (do Brasil). Mas se pensar que também tem muitas jogadoras que jogam aqui, que precisam treinar e jogar, isso só torna mais grave esse desleixo da CBF”, completa.


Ofício enviado pela CBF. Foto: Reprodução/ge.globo
Ofício enviado pela CBF. Foto: Reprodução/ge.globo

Novos tempos e a diferença de sempre


Mesmo sem contar com nenhum torneio de grande porte nos próximos anos no Brasil, o esporte masculino continua tendo tratamento particular pela maior entidade do futebol brasileiro, algo visto pela diferença de informações comunicadas pela própria CBF sobre as duas modalidades apenas nesses últimos meses. 


Para a temporada de 2025, a CBF divulgou o calendário detalhado das suas competições ainda em 12 de novembro do ano passado, muito antes do término do Brasileirão, em 8 de dezembro, da final da Libertadores, em 30 de novembro, e em meio às partidas de ida e volta da decisão da Copa do Brasil, 3 e 10 de novembro, dando tempo suficiente para os clubes iniciarem seu planejamento para o ano seguinte.


Além disso, neste início de ano, a Confederação divulgou duas novas mudanças no regulamento da Copa do Brasil, que já passarão a valer para a temporada de 2025 para os clubes masculinos. Ou seja, mesmo em um período de pausa oficial nos seus trabalhos e com uma decisão importante a ser discutida sobre o futebol feminino deste ano, a CBF divulgou novas diretrizes para o esporte masculino, mas deixou de lado a definição do calendário feminino de 2025, às vésperas da Copa do Mundo Feminina.


“O Brasil, de fato, é reconhecido como o ‘país do futebol’, mas é um futebol muito específico, porque o que tem de futebol abandonado… E o futebol feminino é um deles”, conclui a professora Leda.


Publicado por: Giulianne Sena

Faculdade de Comunicação Social | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

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