Cinelândia e Castelo sofrem com insegurança e serviços
- Gabriel da Silva Santos e Guilherme Nogueira
- 22 de out.
- 3 min de leitura
Moradores da região reclamam da falta de infraestrutura comum em bairros residenciais

Cinelândia, região do Centro do Rio de Janeiro/Reprodução: Agência Brasil
As regiões da Cinelândia e do Castelo, localizadas no centro do Rio de Janeiro, enfrentam um cenário de insegurança e abandono, especialmente durante a noite. É o que relatam os poucos moradores dessas localidades. Trata-se de uma área histórica, marcada por monumentos e prédios que fazem parte da memória da cidade, como o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o tradicional cinema Odeon, entre outras construções emblemáticas do Rio. No entanto, a região sofre com a falta de segurança após o expediente comercial. Isso acontece porque o local é ocupado, em sua maioria, por prédios comerciais, consulados e escritórios. Quando o fim do dia se aproxima, especialmente após as 21h, o policiamento diminui consideravelmente, deixando o espaço vulnerável à criminalidade e gerando medo nos residentes.
Moradores relatam que, com frequência, não encontram viaturas policiais depois das 23h. A ausência de movimento intenso durante a noite expõe os moradores a riscos constantes. “Eu me sinto totalmente insegura, principalmente à noite, por conta das ruas vazias e do pouco policiamento. A segurança pública só funciona durante o dia. À noite, é totalmente abandonada”, relata Danielle Nogueira, moradora da Avenida Presidente Antônio Carlos, região cercada por consulados como o da Itália, da Alemanha e da França.
Casos recentes ilustram como a falta de presença policial contribui para a violência. Em março de 2022, Diogo Amaral Tapler foi esfaqueado durante um arrastão na Cinelândia, de madrugada. O caso evidencia a gravidade das investidas criminosas, mesmo em um dos pontos mais conhecidos da cidade. Diante desse fato, Danilo Gonçalves, que mora no mesmo prédio que Danielle, explica que só volta de carro de aplicativo para casa. “Mesmo morando perto, sempre quando vou à Lapa, volto na madrugada de Uber ou táxi, por causa da minha segurança”, conta Danilo.
Além da insegurança, a Cinelândia enfrenta outro problema: a escassez de serviços básicos, como supermercados, hortifrútis e farmácias. Bruno Melo, morador da Avenida Calógeras, perto da estação do metrô da Cinelândia e do Consulado-Geral dos Estados Unidos, conta sobre a dificuldade de fazer compras simples no dia a dia.
“Quando quero fazer alguma coisa, um bolo ou uma farofa, e falta algum ingrediente, como farinha, açúcar ou margarina, eu tenho que ir até a Lapa, porque lá tem o supermercado, que acaba sendo o mais perto para a gente que mora aqui. Não tem uma vendinha, um hortifrúti, nada por perto, apenas duas redes de farmácia que só ficam abertas até 22h”, reclama Bruno.
Em meio a esse cenário, a Prefeitura do Rio anunciou recentemente o programa Reviver Centro Patrimônio PRÓ-APAC, voltado justamente para combater o abandono de imóveis e recuperar o valor histórico e social dessa região. A iniciativa prevê a desapropriação de prédios degradados e ociosos, que poderão ser repassados a investidores privados interessados em restaurá-los, com subsídios de R$3.212 por metro quadrado, para incentivar as obras de revitalização. O programa tem como objetivo estimular a ocupação do Centro, tornando a área mais atrativa não só para o comércio, mas também para moradia, serviços e atividades culturais.
A expectativa é que, com a recuperação de construções abandonadas, a Cinelândia e o Castelo ganhem mais movimento durante o dia e, principalmente, no período da noite. Em entrevista ao Diário do Comércio, Washington Fajardo, que atuou como Secretário de Planejamento Urbano e foi um dos principais defensores do Programa Reviver Centro, destacou: “A habitação é um catalisador fundamental para transformar centros decadentes em núcleos vibrantes e multifuncionais, onde as pessoas podem verdadeiramente viver a cidade, integrando moradia, trabalho, estudo e lazer”. No entanto, moradores também temem que a revitalização venha acompanhada de especulação imobiliária, tornando o custo de vida mais alto e afastando antigos residentes.
O programa faz parte de uma série de medidas da Prefeitura para requalificar o Centro do Rio desde 2021, quando foi criada a Lei do Reviver Centro. Combinado a iniciativas culturais e incentivos fiscais, o projeto busca transformar locais hoje marcados pelo esvaziamento em áreas de convivência e lazer, preservando o patrimônio histórico e atraindo novos serviços. Ainda assim, o desafio é garantir que os benefícios cheguem de fato à população local, trazendo mais segurança, comércio acessível e qualidade de vida para quem escolheu viver na região.
Publicado por Isabella Topfer
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