Moeda do BRICS: o plano que desafia a hegemonia do dólar
- Ana Clara Alves
- 4 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jan.
Bloco busca maior autonomia econômica e sinaliza a construção de uma nova ordem financeira global, enquanto Donald Trump reage à proposta
Ao longo dos anos, o BRICS vem se tornando um contraponto às potências ocidentais, buscando uma posição de maior protagonismo na economia global. Recentemente, uma iniciativa ambiciosa chamou a atenção do mercado internacional: a possível criação de uma moeda comum entre os países do bloco. A proposta, ainda em fase de estudo, visa reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais internacionais, fortalecendo a autonomia econômica do grupo e abrindo novas perspectivas para um cenário financeiro global multipolar.
O grupo BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, nasceu com a intenção de criar um contraponto às potências tradicionais no cenário econômico global. Desde a criação do grupo, a principal motivação é garantir que as economias emergentes tenham uma voz mais forte e uma influência mais equilibrada nas decisões econômicas e políticas mundiais. Nos anos 2000, enquanto a hegemonia econômica era composta pelos Estados Unidos e países membros da União Europeia, países como China e Brasil sentiram que seus interesses eram frequentemente marginalizados em instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
“Hoje, a realidade é que o mercado de moedas é dominado pelos Estados Unidos. Desde o fim do Padrão Ouro, com o acordo de Bretton Woods, o dólar se tornou a moeda de referência mundial”, explica Gilberto Braga, economista e professor de finanças da IBMEC. “O dólar controla o mercado de trocas internacionais, o que dá aos Estados Unidos um poder significativo sobre a economia global.” Esse domínio tem sido um dos principais fatores que motivam o BRICS a buscar maior autonomia econômica, livre da influência de um único país.
A criação de uma moeda comum entre os membros do BRICS visa exatamente esse objetivo: fortalecer o bloco e proteger suas economias locais dos efeitos de crises financeiras globais, que muitas vezes estão atreladas às flutuações do dólar. De acordo com Braga, “os países do BRICS querem uma moeda própria para ficarem mais independentes e menos dependentes dos Estados Unidos. A nova moeda permitiria uma troca direta entre esses países, sem depender da moeda americana.”
Além disso, a moeda do BRICS não se destinaria apenas a facilitar o comércio interno, mas também a aumentar a estabilidade econômica no bloco. “Uma moeda com aceitação mundial precisa ser confiável e capaz de garantir um sistema financeiro alternativo ao dólar”, ressalta o economista. “Por isso, é importante que sejam países com relevância econômica que não façam parte do grupo das nações mais ricas, para criar uma moeda realmente alternativa.”
O projeto, embora ainda em discussão, reflete as intenções do bloco de criar uma moeda que atenda não apenas às necessidades de seus membros, mas também de outras regiões do mundo, estimulando o surgimento de blocos econômicos semelhantes. “Se isso der certo, podemos ter algo semelhante em outras partes do mundo, como na África, Ásia ou entre países árabes. A ideia é unir nações com uma identidade comum, seja ela econômica, geográfica ou cultural”, complementa Braga.
Contudo, o caminho para a implementação da moeda comum do BRICS ainda enfrenta desafios significativos. A harmonização das políticas econômicas entre países com realidades diferentes pode ser difícil, e a criação de uma infraestrutura financeira robusta para sustentar a nova moeda exigirá um esforço conjunto.
Apesar das incertezas, o projeto de uma moeda comum é visto como um movimento estratégico em direção a uma nova ordem econômica global, menos dependente das grandes potências ocidentais. Para Braga, “ainda não é possível dizer quanto tempo levaria para que essa moeda ganhasse adesão internacional, mas é uma clara demonstração do desejo dos países do BRICS de se tornarem mais relevantes e independentes.”
“Esse movimento pode ser um modelo para outras regiões do mundo, se bem-sucedido. E talvez possamos até ver o surgimento de mais blocos econômicos, baseados em interesses comuns ou proximidade geográfica e cultural”, conclui o economista.
O futuro da moeda do BRICS, embora ainda incerto, pode representar uma transformação importante na dinâmica econômica global, redefinindo o poder das economias emergentes e, talvez, inaugurando uma nova era para os blocos econômicos regionais.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, usou a plataforma X para comentar a proposta de criação de uma nova moeda pelos países do BRICS.

Disponível em: https://x.com/realDonaldTrump/status/1863009545858998512. Acesso em: 4 dez. 2024.
Publicado por Carolina de Vasconcelos