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Enchentes na Espanha ligam alerta global para as mudanças climáticas

  • Gabriel Maria e Guilherme Rezende
  • 2 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de jan.

Tragédia na Espanha é uma das maiores e mais devastadoras dos últimos anos no continente europeu e reflete a situação vivida no Rio Grande do Sul no final de abril.


Na última terça-feira (29/10), uma chuva equivalente à média anual da região caiu em Valência, na Espanha, em um período de apenas oito horas. A enchente é considerada como a pior do século no país e uma das maiores catástrofes naturais da Europa nas últimas cinco décadas. As imagens da tragédia chegam pelos mais diversos meios de comunicação, como jornais e redes sociais, e impressionam pelo nível de destruição.


O número de mortos causados pela enchente já chega a pelo menos 217, número atualizado até esta segunda-feira, 4 de novembro, e que deve aumentar nas próximas horas e dias, conforme novos corpos são encontrados pelas equipes de resgate. Cerca de 75 mil residências ainda estão sem eletricidade, aumentando os danos materiais.


As imagens abaixo, divulgadas pela Agência Espacial Europeia (ESA), mostram como ficou a região atingida pelo fenômeno natural. A primeira imagem foi feita em 8 de outubro, e a segunda, em 30 de outubro. Ainda com risco de novas chuvas para outras regiões na Espanha, Aemet, a agência de meteorologia do estado, emitiu seu alerta máximo para a província de Castellón, com previsão de 180 mm de precipitação, e um alerta laranja para a cidade de Tarragona, localizada mais ao norte, na região da Catalunha.


Visita do rei

No domingo, 3 de novembro, o rei Felipe VI e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchéz, visitaram Paiporta, uma cidade na região de Valência. No local, o representante da realeza e governo espanhol foram recebidos por um grupo de manifestantes, que atirou lama e objetos em suas direções.


Em vídeos, é possível ouvir a população questionando as autoridades sobre sua demora em aparecer na região, além de gritos de “assassino” direcionados ao rei.

Em um anúncio na televisão espanhola, o primeiro-ministro falou que vai aumentar o quantitativo das forças de segurança para auxiliar nos trabalhos de socorro. Serão mobilizados mais cinco mil soldados para ajudar nas buscas e na limpeza, além dos 2,5 mil já em ação — a maior operação das Forças Armadas na Espanha em tempos de paz. Além disso, um novo destacamento de cinco mil policiais e guardas civis também ocorrerá.



As mudanças climáticas e seus impactos

O alto nível de precipitação que acabou ocasionando as enchentes na região de Valência possuem um motivo: o DANA, sigla em espanhol para Depressão Isolada de Alta Altitude. Nesse fenômeno, o ar frio e quente se encontram e produzem poderosas nuvens de chuva, algo que cientistas e especialistas acreditam estar se tornando cada vez mais recorrente por conta das mudanças climáticas.


Um evento parecido com esse ocorreu no nosso país recentemente. As enchentes no Rio Grande do Sul, em maio deste ano, atingiram 471 cidades do estado, deixando 182 mortos e mais de 600 mil desabrigados, tendo seus danos sentidos até hoje, seis meses após a catástrofe.



Enchentes, como as vistas em Valência e em Porto Alegre, são decorrentes do aquecimento global. De acordo com o professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marcelo Obraczka, as mudanças climáticas provocam a necessidade de preparações para evitar eventos como estes, já que o aumento de catástrofes está ligado aos efeitos das alterações do clima.


Assim, é importante “tomar medidas para tornar essas áreas mais resilientes aos impactos negativos desses fenômenos, procurando recuperar as condições naturais do ciclo hidrológico”, afirma o professor.


Obraczka ainda lembra semelhanças entre ambas tragédias, pois tanto Valência quanto Porto Alegre se encaixam na categoria de grandes cidades que ocupam uma área litorânea, onde naturalmente há maior dificuldade de escoamento das águas. “Tanto em Valência como na região de Porto Alegre, a integração da ocorrência de fenômenos climáticos extremos e totalmente fora de qualquer padrão levaram uma quantidade absurda de água de chuva que não pode ser escoada, nem absorvida em um curtíssimo espaço de tempo. Os sistemas de drenagem não são dimensionados para vazões dessa natureza. Com raríssimas exceções, as cidades do mundo não estão preparadas para lidar com essas ocorrências, mitigando o efeito dessas chuvas”, explica.


A expectativa para os próximos anos

Com indicadores do aquecimento global em disparada nos últimos anos, como o aumento da temperatura média do planeta, elevação do nível do mar, queimadas, grandes períodos de estiagem, derretimento de geleiras, entre outros, é necessária a criação de planos e métodos de contenção e prevenção de fenômenos com potencial catastrófico, como as enchentes. “Devemos pegar o exemplo do que está ocorrendo e preparar melhor nossas cidades para enfrentar essas mudanças, já que a tendência é o agravamento desse processo de aquecimento para os próximos anos”, alerta o professor.


“Já que a princípio não temos como diminuir a intensidade da chuva e o processo de urbanização/concentração da população em áreas urbanas, medidas podem e devem ser tomadas para tornar essas áreas mais resilientes aos impactos negativos desses fenômenos, procurando recuperar as condições naturais do ciclo hidrológico”, completa Obraczka, indicando que esse é um mal que atingirá a todos mais cedo ou mais tarde, necessitando assim buscar soluções rápidas e eficazes.


“As cidades, e as populações, devem aprender a conviver com essa nova realidade de ocorrências extremas, investindo em medidas preventivas e corretivas, incentivando e aumentando as áreas de infiltração, detenção, acúmulo e aproveitamento das águas da chuva, reduzindo a velocidade e a energia das águas do escoamento, fazendo a manutenção preventiva dos sistemas de drenagem e macrodrenagem, naturalizando os rios urbanos, e aperfeiçoando os sistemas de previsão, alarme e resposta, de forma a reduzir os impactos socioeconômicos e as perdas materiais e humanas”, finaliza Marcelo Obraczka.



Publicado por Guilherme Rezende


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Faculdade de Comunicação Social | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

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