Do lixo ao luxo: o processo de recuperação ambiental da Praia do Flamengo
- João Gabriel Nicolli e Júlia Scárdua
- 22 de out.
- 4 min de leitura
Entenda como o “Caribrejo”, antes sinônimo de poluição e esgoto, apresenta 92% dos dias próprios para mergulho e lazer nos últimos quatro meses

Anteriormente associada à poluição e ao despejo de lixo, a Baía de Guanabara vem passando por diversas mudanças significativas em relação à balneabilidade de suas águas. Um projeto desenvolvido pela empresa Águas do Rio foi o precursor para uma evolução evidente.
Com a chegada da primavera e o calor característico do Rio de Janeiro, a Praia do Flamengo – carinhosamente conhecida como “Caribrejo” – se prepara para receber cariocas e turistas em um cenário renovado.
Após anos de esforços para melhorar a qualidade da água e a limpeza da região, a praia tornou-se balneável, atraindo cada vez mais banhistas. A transformação reflete um compromisso com a sustentabilidade e a revitalização urbana, consolidando a Praia do Flamengo como um destino urbano de lazer e bem-estar.
Neste contexto, o clima de celebração ganha força com movimentos culturais, como o Glorioso Mergulho, que convida os foliões a mergulho de mar à fantasia, simbolizando o reencontro com a praia limpa; e o Amigos da Onça, conhecido por seu cortejo irreverente que ocupa o Aterro e as ruas do bairro, reafirmando o caráter festivo da região.
A revitalização da Praia do Flamengo, impulsionada pela melhora na balneabilidade de suas águas, devolveu ao espaço um papel central na vida cultural e esportiva do Rio de Janeiro. Hoje, o trecho que por anos esteve esquecido volta a receber banhistas, esportistas e visitantes atraídos por um ambiente mais limpo. Morador da área, o estudante Guilherme Nogueira lembra como o cenário costumava ser bem diferente:
— Antigamente, era comum encontrar saco plástico, copo descartável, qualquer tipo de sujeira boiando na água da Praia do Flamengo. Hoje, não tem nada. A água parece até cristalina. É impressionante ver o “Caribrejo” assim.
— Isso aconteceu muito por causa das Olimpíadas. Na época, não conseguiram limpar 100%; ainda havia lixo, mas foi melhorando bastante. E hoje parece que estamos colhendo os frutos, porque a praia está praticamente própria para banho — finalizou o estudante.
A despoluição da Baía de Guanabara foi uma das grandes promessas de legado das Olimpíadas para os cariocas. Conforme os boletins históricos do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), a Praia do Flamengo apresentou boletins positivos de balneabilidade de agosto a outubro de 2016, ano em que o Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos. Entretanto, a qualificação anual das águas da região foi tida como “péssima”, pois o percentual de boletins próprios daquele ano foi de somente 43%.
No ano de 2021, os números de balneabilidade caíram ainda mais em relação ao percentual do período das Olimpíadas. De acordo com a instituição especializada em fiscalização ambiental, as águas da Praia do Flamengo só estavam próprias para banho em 9% dos dias de junho, julho e agosto.
Já em 2023, o cenário apresentou melhoria significativa. Os dados de balneabilidade mostram que a Praia do Flamengo alcançou 75% de boletins considerados “próprios” ao longo do ano, o que revela uma recuperação expressiva em relação aos anos anteriores.
No ano de 2025, uma marca histórica foi atingida. Dados do próprio Inea indicaram uma balneabilidade de 100% na Praia do Flamengo.
A solução do problema
O segredo do Flamengo está na reativação do interceptor oceânico. Em 2023, cerca de duas mil toneladas de resíduos foram removidas do túnel de nove quilômetros de extensão, que vai da Glória a Copacabana, devolvendo sua capacidade plena, além da possibilidade de receber mais esgoto e ainda evitar a recorrência de extravasamentos.
O sistema pretende coletar o esgoto da Zona Sul do Rio de Janeiro, conduzi-lo por uma extensa galeria subterrânea e lançá-lo em alto-mar por meio de um emissário submarino. Dessa forma, impede que os dejetos sejam lançados diretamente em praias e rios, contribuindo para a melhoria da qualidade da água, a prevenção de vazamentos e alagamentos, além de proteger a saúde pública.
Em entrevista para o site da Águas do Rio, Sinval Andrade, superintendente da concessionária responsável pelos serviços de saneamento básico em 124 bairros do Rio de Janeiro, afirmou que a ampliação da capacidade do interceptor oceânico em 2023 permitiu desviar o Rio Carioca, evitando o lançamento de aproximadamente 300 litros por segundo de esgoto na Praia do Flamengo diariamente.
— Pela primeira vez, em 52 anos, o interceptor está trabalhando com sua capacidade plena. Isso significa que todo o sistema de esgotamento sanitário da Zona Sul está mais baixo, correndo com fluidez e apto a receber mais esgoto — afirmou o superintendente.
Mesmo a passos curtos, a evolução do projeto da companhia de água e esgoto do estado do Rio de Janeiro já deixou resultados positivos evidentes. De acordo com a própria empresa, a meta principal é fazer com que as águas de toda a Baía de Guanabara estejam próprias para banho até 2033. Nesse intervalo, a volta de banhistas às águas e os índices registrados já indicam esperanças positivas para o futuro.
Publicado por: Geovana Costa
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