Desemprego e a produção de conteúdo adulto por jovens da periferia do Rio de Janeiro
- Guilherme Leôncio
- 8 de out.
- 3 min de leitura

Imagem: Freepick
A pandemia de covid-19 provocou profundas transformações em diferentes setores econômicos. No ramo do entretenimento, o impacto foi evidente, com um crescimento expressivo tanto em quantidade quanto na qualidade dos serviços. Entre as áreas que mais se destacaram, o entretenimento adulto registrou uma expansão significativa.
Com o terreno fértil, o OnlyFans ficou muito popular e teve um aumento de 600%, chegando a cinco milhões de usuários somente em 2020. O sucesso foi tão grande que, no mesmo ano, foi lançado o Privacy, um site totalmente brasileiro, com características muito semelhantes.
Durante a efervescência disso, aqui no Brasil, surgiu uma nova e possível fonte de renda para jovens que não foram tão bem recebidos pelo mercado de trabalho. Na zona oeste do Rio de Janeiro, onde eu moro, muitos deles terminam o ensino médio sem perspectivas ou meios para alcançar qualquer ambição profissional.
Segundo pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio está em segundo lugar no ranking nacional de desemprego de jovens adultos, perdendo somente para Recife. Eu atribuo esse problema à falta de capacitação, à desigualdade socioeconômica nos territórios da cidade e aos impactos econômicos deixados pela própria pandemia.
É claro que eu faço distinção entre as pessoas que se expõem sexualmente por desejo e as que veem nisso uma última oportunidade de subsistência. Mas o intrigante é como essa exposição na internet se tornou algo tão comum. Eu me indago porque os desafios na vida de jovens que trabalham com entretenimento adulto podem ser duros e muito permanentes.
Nós sabemos que a pornografia pode afetar de várias formas a vida social de alguém, pensando também em desempenho sexual, ansiedade, entre outros gatilhos. Mas como fica a cabeça de quem torna essa fantasia um pouco mais concreta?
Não é minha intenção censurar a produção de pornografia nem quem produz, na verdade, a questão é: como as plataformas enxergam essas pessoas que estão essencialmente trabalhando?
Nas principais plataformas de venda de conteúdo, a maior parte do lucro vai para quem produz o material, um valor de 80% e os 20% que sobram são retidos pelo site. E o dinheiro não é pouco. No OnlyFans, por exemplo, as assinaturas mensais podem variar de quatro a 50 dólares americanos, ou seja, de 20 a 250 reais. Honestamente, é bem mais que um trocado.
Entretanto, isso exige um custo psicológico e até mesmo afetivo. Não ter vontade de se relacionar com o parceiro ou a parceira quando chega em casa por se sentir “sujo” ou “suja” é um sentimento frequente. E produzir conteúdo não é uma tarefa simples. Apesar de toda a praticidade que os smartphones nos proporcionam, é preciso planejamento e criatividade para atender à demandas de quem está pagando.
Prostituir-se é, por essência, o ato de usar o corpo como mercadoria mediante pagamento. Apesar do preconceito, a prostituição e a produção de conteúdo adulto não são crimes no nosso país. A atividade de “profissional do sexo”, inclusive, é listada na —Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Contudo, assim como os entregadores de delivery estão “por conta própria”, posso dizer que quem produz conteúdo adulto, mesmo que por escolha, não vai ter amparo nenhum em termos de auxílio-desemprego e principalmente saúde mental. Essa é uma questão que não deve ficar somente no “bota a cara quem quer” e, sim, ser ampliada para o assistencialismo trabalhista, pensando nessas “novas profissões” e, claro, para a regulamentação das plataformas digitais.
Publicado por Sara Pimentel