Casos de Edoardo Bove e Juan Izquierdo acendem alerta para a medicina esportiva na prevenção de mal súbito
- Jônathas Rocha e Miguel de Paula
- 6 de jan.
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Atualizado: 28 de jan.
Ambos os jogadores foram acometidos por emergências médicas enquanto estavam atuando, gerando desespero para os torcedores
Em 2024, o esporte mundial testemunhou dois episódios alarmantes: Juan Izquierdo, jogador do Nacional de Montevidéu, faleceu após sofrer uma parada cardíaca, enquanto Edoardo Bove, jovem atleta da Fiorentina, enfrentou um ataque cardíaco desencadeado por uma crise epiléptica. Esses acontecimentos acenderam um alerta sobre os riscos das cardiopatias em atletas, uma preocupação crescente no esporte. De acordo com Daniel Kopiler, chefe da ala de reabilitação médica do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), o tema demanda atenção redobrada no cenário esportivo.
Os casos de Izquierdo e Bove não são inéditos no futebol, tampouco no esporte em geral. Nomes como Ryan Shay, Reggie Lewis, Jiri Fischer e Sergei Grinkov ilustram os riscos que a alta exigência física do esporte pode representar para a saúde cardíaca dos atletas.
A relação entre o coração e o funcionamento do corpo
A prática esportiva demanda que o corpo opere em níveis extremos de desempenho, o que sobrecarrega o coração, obrigando-o a acelerar o ritmo para sustentar o organismo. Como órgão central do sistema circulatório, o coração desempenha a tarefa vital de bombear sangue por veias e artérias, ajustando sua frequência de acordo com as condições enfrentadas.
O chefe de reabilitação médica do INC, Daniel Kopiler, destaca que as doenças cardíacas variam conforme a faixa etária e explica o impacto emocional e midiático das mortes súbitas no esporte, reforçando a necessidade de maior atenção à saúde cardiovascular de atletas profissionais.– Temos que entender que a morte súbita não é habitual, ela chama muita atenção porque estamos falando de ‘um símbolo da saúde’, que é o esportista. Desse modo, tomar conhecimento das cardiopatias mais comuns na sua faixa etária é fundamental. Algumas dessas patologias são cardiomiopatia hipertrófica (alteração genética do coração) e canalopatias (falhas no sistema de condução do coração) e também doença arterial coronária (causadora do infarto e que obstrui as artérias coronárias) – elucida o especialista.
As cardiopatias mencionadas por Daniel variam de acordo com a faixa etária. Em indivíduos com menos de 35 anos, alterações genéticas e distúrbios na condução elétrica do coração são as principais causas de mal súbito. Já em pessoas acima dessa idade, os casos de obstrução arterial, que frequentemente causam dores no peito e podem levar ao infarto, tornam-se mais prevalentes.
Atividades físicas podem sobrecarregar o corpo humano
O coração adapta sua frequência conforme as demandas das situações cotidianas. No contexto esportivo, a própria competição estimula uma produção intensa de adrenalina. Além disso, os exercícios de alto rendimento geram um esforço físico extremo, resultando em uma descarga adrenérgica adicional, que pode sobrecarregar o sistema cardiovascular. Kopiler, nesse contexto, pontua que os esforços físicos em demasia podem aflorar condições problemáticas pré-existentes no nosso corpo.– Quando um atleta é submetido a atividades de alta intensidade, ele é acometido por uma descarga de adrenalina muito grande, o que é algo normal da dinâmica do exercício. Contudo, quando se treina, frequentemente, em um rendimento alto e, em paralelo, você está em uma competição, essa adrenalina fica muito mais aflorada. Portanto, pessoas que já têm doenças estruturais do coração podem ter uma facilidade de desenvolver uma arritmia e, por conseguinte, provocar um mal súbito – argumenta Daniel.
Como prevenir tais fatalidades?
Apesar de a prática esportiva intensa estar geralmente associada à boa saúde, ela pode revelar ou agravar problemas cardiovasculares previamente ocultos, como arritmias, hipertrofias cardíacas e outras cardiopatias. Daniel enfatiza que os exames clínicos e o levantamento detalhado do histórico pessoal e familiar são fundamentais para a prevenção de doenças cardiovasculares.
— O mais importante de tudo, inicialmente, é história e exame clínico, esses são os postos-chave para tentar prevenir –, pontua Kopiler.
Ele complementa destacando o eletrocardiograma como uma das ferramentas mais eficazes para diagnosticar problemas cardíacos. Pequenas alterações no registro desse exame, descobertas há pouco mais de dois anos, têm sido fundamentais para diferenciar e tratar doenças cardíacas graves e silenciosas, trazendo avanços significativos na medicina esportiva.
– Na maior parte da rotina dos atletas, o eletrocardiograma é a tríade em que a gente faz a avaliação inicial. Nela, você pode detectar algum tipo de arritmia ou algumas outras alterações. Então, o eletrocardiograma como complemento é muito importante e deve fazer parte da prevenção, encerra o cardiologista
Publicado por: João Gabriel Nicolli